Cliente acha difícil arrumar namorado em Londres!

-Daniel, está bem difícil arrumar namorado em Londres. Isso acontece com voce também?

Eu gosto da sinceridade dos meus cliente, viu? Da sinceridade e da falta de noção. Perguntar para o seu faxineiro se o mercado está difícil para arrumar namorado quando voce mora em uma casa de quatro andares perto do bairro onde mora a rainha e o mesmo que dirigir uma BMW e perguntar para alguém pedalando uma bicicleta se o freio é bom. São mundos bem diferentes, tenho certeza que ele tem um círculo de pessoas bem diferente do meu e que não frequenta os bares com a promoção do Happy Hour que eu vou para o meu dinheiro render mais. Mas a gente tem que entrar na onda, ser comunicativo.
-Depende, para quem está procurando por algo sério talvez seja mais compliado. Para quem leva um dia de cada vez continua do mesmo jeito eu acho.

-Mesmo jeito como?
-Tem semanas mais paradas, tem semanas mais movimentadas. Tem festa que voce não acha nada que vale a pena e tem festa que voce fica escolhendo porque tem opção demais.
-Então eu devo estar indo para as festas erradas, voce vai ter que me levar para uma destas suas festas um dia – ele riu.

E é essa falta de senso que eu acho divertido, não apenas entre os meus clientes, mas nos gays de Londres em geral.
O meu cliente tem quase 60 anos e não vai dar muito certo em uma balada que eu vou. Fases diferentes da vida, só isso.

As vezes caminho no Soho, a meca gay de Londres, e vejo uns homens de 50, 60 anos com camisetinha colada no corpo e boné de skatista (para trás). Bom para eles que se sentem felizes assim, mas é feio, não combina.
-Claro, levo sim, vamos marcar um dia – e mudamos de assunto para falar de marca de detergente líquido e do melhor tipo de amaciante para lavar os panos de prato bordado a mão na Índia sem desbotar os coitados.

Tomara que ele esqueça que me pediu isso.

Perco a piada mas não perco o cliente

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Quarta-feira desta semana um cliente me perguntou se eu faço dieta. A resposta é não. Mas foi um papo divertido porque ele falou que vive de regime e não sabe porque engorda. Ele trabalha em um escritório no centro alguns dias por semana e os outros dias ele trabalha de casa (não entendi o que ele faz de casa mas é algo no computador). A melhor parte foi ele dizer que estava indo ver uma médica na semana que vem que cobra £500 por consulta para te dizer qual o seu problema alimentar e te passar uma dieta equilibrada.

-Mas Daniel não tem mais o que cortar, eu mal como. Vou adoecer se eu parar de comer qualquer coisa.
Essa foi a parte engraçada porque ao final da faxina eu saquei que esse era justamente o problema dele: comer qualquer coisa que via pela frente.

Limpei a casa dele por 3 horas e nem todas estas horas na cozinha. Mas durante o tempo que fiquei entre cozinha-corredor-banheiro, vi ele visitar a geladeira umas cinco vezes. E depois diz que não sabe porque engorda.
Eu deveria é ter dito para ele qual é o problema dele e ter pedido os £500 que ele vai dar para esta tal médica. Mas fiquei na minha porque a gente perde a piada mas não perde o cliente.

Cliente bonito atrapalha meu serviço

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Tá confirmado: cliente bonito não dá em cima de voce. Nestes anos todos fazendo faxina em Londres de bunda de fora já tive todo tipo de cliente (até mulher, casais, estudante, deficientes, etc). Quando mais feio o cliente, maior a chance que ele vai te dar uma cantada ou oferecer um dinheirinho extra para serviços que não ofereço, como sexo, por exemplo. Daí quando voce vai visitar um cliente novo e ele abre a porta e voce quase cai antes mesmo de entrar no apartamento de tão bonito que ele é, voce fica torcendo para ele te dar um mole (ou duro) durante a faxina mas nada acontece. Já tive cliente assim no passado e recentemente tive outro e sempre a mesma coisa: se é bonito, cheiroso e educado, geralmente tem uma namorada ou namorado e fica só naquela de te olhar enquanto voce trabalha.

Outra coisa bem delicada com estes clientes bonitos, especialmente os bem sarados, é que voce fica se achando fora de forma e arrependido de ter faltado a academia duas vezes na última quinzena. É como se uma pulga atr’as da sua orelha ficasse te lembrando o tempo todo que junto com a faxina voce vende a imagem, é por isso que os clientes pagam mais para te ver pelado. Daí quando o cliente tem um corpo melhor do que o seu parace errado.

Mas pior mesmo é ter que disfarçar se o pau de repente dá aquela subida no meio do serviço. Isso deve acontecer com quem trabalha em escritório, banco, sei lá. Mas pelo menos nestes trabalhos mais convencionais as pessoas estão vestidas e passa batido. Quando see stá nu, com uma vassoura, rodo ou flanela na mão nem tem muito como esconder estes pequenos acidentes.
Cliente feio as vezes dá menos trabalho. Risos.

É simples assim: voce chega, pega o dinheiro, tira a roupa, ele te olha já sem jeito voce limpa a casa, ele olha, voce termina, veste a roupa e vai embora. Sem ereção para atrapalhar este ciclo.

Acontece de tudo com quem faz faxina pelado

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Acho que estou fazendo este trabalho de limpar a casa dos outros pelados por tempo demais porque estou ficando mais chato ou, em outras palavras menos tolerante com cliente chato.
Nunca reclamo de nada, não espero por gorjetas e raramente me atraso. Mas tem gente que nunca está satisfeito com nada.

Geralmente estes não são clientes ingleseses porque ingleses não reclamam de nada – é mais fácil eles nunca mais te chamarem para trabalhar para eles do que falarem algo que não gostaram da sua faxina. Mas italiano e amerciano eu vou te contar. Salvos poucos clientes destes dois lugares que foram bacanas comigo, a maioria acha que por estar pagando voce ‘e quase um escravo. Teve um americano semana passada, perto de Earls Court, que pediu para eu desparafusar abajur e porta de armário para limpar dentro (nunca me pediram isso antes). Fiz, mas achei estranho. E teve outro, este mais afastado do centro de Londres, que me mandou se foder porque eu não aceitei ele passando a mão na minha bunda enquanto eu limpava o casa dele. Mesmo em 2016 ainda tem gente que não entende que nem tudo é para ser tocado.

Mas sigo em frente. No fim das contas quando alguém se propoe a fazer faxina pelado tem que esperar por estas e outras.

Chuva significa dinheiro no meu bolso

Vou economizar o tempo de voces e o meu pulando todo o blábláblá de porque andei sumido aqui do blog. Em uma frase: falta de tempo. Vou tentar retornar aos poucos, com posts mais curtos, para ver se vai.
Já estamos em junho e verão que é bom ainda não chegou por estas bandas de cá. Para mim a chuva e falta de sol é melhor do que quando o tempo está bom. Quem me acompanha aqui sabe que quando o tempo melhora os ingleses gostam de sair de casa nem que seja para o parque da esquina porque tempo bom com sol quente de verdade aqui na Inglaterra é coisa rara, dura uns dois meses e pronto.
Já por outro lado, quando chove as pessoas ficam mais em casa e a casa suja mais, o que significa mais dinheiro no meu bolso.

Hoje no fim da tarde tenho faxina perto de Maida Vale e a noite em Notting Hill. Pura sorte pegar dois clientes um perto do outro assim no mesmo dia porque daria para ir até a pé se não tivese chovendo – mas daí se não tivesse chovendo talvez os clientes não teriam marcado faxina. Então vamos ser feliz de sombrinha mesmo.

Feliz 2016! Saúde e amor – o resto se dá um jeito.

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O calendário mostra que já estamos no terceiro dia de 2016, mas acho que oficialmente mesmo só amanhã o ano começa. Pelo menos de trabalho está assim, bem parado. Mas é bom para compensar as duas últimas duas semanas do ano passado, que trabalhei umas 18hs por dia (todo cliente quer casa bonita para os convidados no fim de ano). Os que são solteiros ou tem poucos amigos viajam para fugir desta festança que é o período natalino em que todo mundo é meio que obrigado a fazer uma social, participar de amigo secreto, mandar cartão ou mensagem para pessoas com quem não fala o ano inteiro ou nunca.

Na virada do ano fui para a London Eye (este ano cobraram ingresso até para ver os fogos gente!) mas dava para ver de graça mais de longe, sem ser na área com maior policiamento.
Colocaram mais de 2 mil policiais nas ruas do centro de Londres porque estava rodando um boato de que, devido aqueles atentados que aconteceram em Paris recentemente, Londres poderia ser o próximo alvo.
Fui assim mesmo com a Ana, Doug (que se mudou para fora de Londres mas veio para o reveillón e ficou aqui em casa), a Moira (uma amiga francesa nossa) e o Bart (que não é o dos Simpsons).

Mesmo a cidade tendo mais de 8 milhoes de pessoas (mas claro nem todas vão ver os fogos no centro) eu encontrei na multidão Mr. Putney. Ele estava com uma mulher e deu um oi rápido. Eu nem esperava. Cliente que contrata faxineiro pelado não costuma falar com a gente nas ruas. Mas deve ser porque sendo fim de ano e com tanta gente ao redor as pessoas ficam mais simpáticas e falam com todo mundo sem ter que explicar muito quem são. Vai saber? Fazem quase dois meses que não limpo a casa dele, de repente ele se lembra de me ligar depois do encontro na virada do ano.

Feliz 2016 para você que acompanha o blog ou que passa aqui de vez enquando.
Saúde e amor na vida de cada um porque o resto se dá um jeito.

Existe rolha para humanos?!

Deveria existir uma rolha humanos. Fui fazer faxina na casa do Sr. Parsons Green (já falei dele aqui no blog) e comi tanta castanta importada lá que acordei hoje com uma bela de uma desinteria. Pensei até em desmarcar o cliente de hoje, mas fiquei com vergonha de ligar para o Sr. T e falar que eu estava com caganeira.

Fui assim mesmo. Se fosse cliente novo eu teria desistido, inventado uma desculpa qualquer porque clientes novos ficam observando o meu trabalho (e o resto) por ser novidade. E eu iria morrer se fosse me abaixar para limpar embaixo de um móvel e acabasse deixando algo vazar por trás. Mas o Sr. T é gente boa e das antigas.

Assim como existe supositório (para fazer sair) deveria ter algo para segurar.
Mas deu tudo certo. Suei frio algumas vezes. E foi um alívio quando terminei de limpar tudo.
-Daniel, você está bem? – o Sr. T. me perguntou enquanto abria a porta para eu ir embora levando o saco do lixo para colocar lá fora – Você estava tão quieto e pálido hoje.
-Nada não, estou ótimo – e no que falei isso senti uma pontada na barriga e vontade de sair correndo.
-Achei que estivesse chateado com alguma coisa.

Não sabia ele que eu não estava não. Estava apenas me segurando mesmo. Para não espirrar. Para não peidar. Para não fazer nada que pudesse me fazer passar vergonha. Eu estava sendo pago para limpar, não para cagar a casa dos outros, no sentido mais literal da palavra.
-Estou ótimo, acho que estava concentrado na faxina. Foi isso. Concentrado.
-Ah, tudo bem então. A faxina deve ter sido pesada hoje porque a sua testa está toda suada.
-Esta, é?

Queria tanto que ele encerracesse esta conversa fiada logo para que eu pudesse ir embora e passar o resto do dia sentado em uma privada. Parecia uma eternidade ficar ali em pé jogando papo fora quando eu estava prestes a me borrar todo.

O pior é que, como eu já estava vestido, iria ter que ir para casa cagado porque não tinha outra roupa para trocar.

-Tchau Sr. T. nos vemos em duas semanas (ele sempre pede faxina quinzenalmente).
Quando eu saí, foi tão bom sentir o ar da rua no meu rosto e secando as minhas mãos que estava suadas de tanta pressão! Só depois de caminhar uns 10 minutos ruas abaixo foi que percebi que ainda estava carregando o saco de lixo da casa do Sr. T.

Me desfiz dele. Mais pontadas na barriga, dessa vez mais fortes. E entrei no primeiro McDonalds que achei pela frente e fiquei uns 20 minutos no banheiro, me desmanchando em merda, enquanto ouvia as pessoas da fila reclamando da minha demora e que outros também queria usar o WC.

Saí mais suado do que entrei no cubículo, mas saí leve e feliz de saber que agora daria para aguentar até chegar em casa e que eu não tinha mais trabalho até o dia seguinte.

Pago por um papo e uns drinks

Pegadinha do dia foi essa: fui para fazer faxina e acabei sendo pago para bater papo e beber.

Cheguei no apartamento do cliente novo para trabalhar e fiz o de costume:
Recebi o dinheiro das duas horas adiantado.
Confirmei onde poderia deixar as minhas roupas.
E assim que fiquei pelado perguntei qual vão do apartmento ele queria que fosse feito primeiro.

O Sr. Gloucester Road, um homem de uns 40 e poucos anos e cabelo com gel, disse que pela sala, porque queria me ver trabalhando – Esse é o motivo aliás porque as pessoas pagam mais por um faxineiro que trabalha sem roupas.
-Claro, sem problemas. Onde o Sr. guarda o seu material de limpeza?
-Material de limpeza?

A cara dele era uma mistura de susto e de quem vai cair no riso.
Como ele veio indicado do Sr. Battersea, que eu já fui lá dezenas de vezes, achei que ele tinha alertado o amigo que faxina se faz com produtos, não só com água pura.
-Sim, material para que eu possa limpar o seu apartamento. água sanitária, flanelas, detergente. Essas coisas.

Ele ficou todo sem jeito porque achou que eu levaria o material de limpeza (este povo tem o juízo não sei onde porque desde quando vou incluir produto de limpeza no valor que cobro?) Como vou ficar pegando metro com bolsas de flanelas, rodos, detergente, sabão ….

Ofereci para ir comprar para ele mas ele disse que não precisava, o que foi mais estranho ainda porque ficou aquela coisa no ar tipo: e agora zé, não vou receber meu dinheiro porque não tenho com o que trabalhar?
Ele deve ter percebido a minha cara de confuso e disse que pagaria as duas horas conforme o combinado assim mesmo por não ser minha culpa e perguntou se eu não me importava de tomar um drink com ele.
-Desculpe mais uma vez pelo mal entendido, Daniel.

Aceitei, ele estava dentro da hora de trabalho que seria para limpar a casa dele mesmo.

O homem contou a vida dele todinha em 3 horas (e fez questão de pagar a hora extra que eu fiquei lá, além das duas que ele já tinha pago).

É muito estranho esse meu trabalho. Tem dias que nem acredito na diversidade de pessoas que eu encontro pela frente.

Quando cheguei em casa tinha uma mensagem dele no meu celular agradecendo por ter feito companhia e pedindo para eu enviasse para ele a lista de produtos que eu iria precisar para fazer faxina da próxima vez que eu for lá.

É um bom sinal de que ele vai me chamar de volta, mesmo eu não tendo feito nada hoje.

Sabendo separar as coisas

Eu demorei muito tempo para falar para a Ana qual era o meu trabalho.
Ela sabia que eu limpava a casa dos outros, mas não nu. Este detalhe veio bem depois.
E foi bom nunca ter escondido. Quando algo interessante acontece eu divido com ela e as vezes pego a opinião dela antes de postar aqui no blog. Não concordamos em muita coisa. o Craig por exemplo, ela detestava o que eu fazia (dormir com o namorado hétero da Donna). Mas sempre vi isso como um empréstimo. No fim do dia ele volta para ela, tinha filhos, viajavam de férias, etc, ou seja, não roubei nada dela.

Esta semana Ana me indicou um cliente, amigo do patrão dela.
Meu queixo quase caiu quando cheguei na casa dele, em Marylebone. O homem era tão bonito que dava gosto de ver. Parecia eles modelos de comercial de pasta de dente ou carro, uma saúde.

E nunca vi um homem para perguntar tanto sobre o meu trabalho!!!.

No início achei bacana. Pensei: nossa, esse homem bonitão interessado em mim? Tirei na loteria.
Mas depois fui vendo, pelas perguntas, que ele estava mais interessado mesmo nas histórias dos clientes, como eles são, o que fazem da vida e tal.
Deve ser um fetishe ou algo assim.

Trabalhei lá cinco horas, sem intervalo, sem sequer beber um copo d’agua porque ele não me ofereceu.
E foi melhor mesmo que ele não mostrou muito interesse em mim porque assim separei bem as coisas. Como ele é amigo do patrão da Ana iria ficar chato depois isso chegar até ela porque ela me indicou para limpar a casa de quem estava precisando de um faxineiro, nada mais do que isso.

E Londres tem outros homens bonitos.