Segunda-feira depois da faxina conheci um rapaz em um pub no Soho.
O centro de Londres é bem calmo no início da semana porque o pessoal volta ao trabalho depois de festar o fim de semana inteiro nos bares do bairro.
Eu passei para pegar as revistas da semana anterior porque ainda não tinha tido tempo de dar uma olhada no que esta acontecendo (há várias revistas para o público gay que são distribuídas gratuitamente nos bares e restaurantes do centro, basta chegar e pegar, geralmente em prateleiras que ficam perto da área dos banheiros ondem eles também disponibilizam camisinhas grátis).
Ele puxou conversa, ficamos de papo do lado de fora do pub mesmo depois de fechado – ano novo mas os bares em Londres continuam fechando as 11:30 da noite, uma bosta!.
-Eu sou o Aldi. Tenho 26 anos, cheguei em Londres há pouco mais de 3 meses, nasci na Bulgária, cresci em Paris, gosto de pedalar e tenho o pau torto.
Ele falou tudo assim, de uma vez só, como se estivesse participando de uma competição e eu ri pela originalidade e por achar que eu tinha ouvido ele falar que tinha o pau torto. Claro que devia ser uma pequena confusão por causa do sotaque dele, e as vezes troco as palavras e não vi maldade alguma nisso.
-Sério. Não ri não. É bem torto mesmo – ele acrescentou, meio sério e meio rindo.
-Voce está falando sério? – puta que o pariu, eu pensei comigo, mais um doido. Ele deve estar de brincadeira.
-Estou falando sério sim. Agora me fala de voce.
-Bom, eu sou o Daniel, eu nasci no Brasil mas moro em Londres faz um tempo. Gosto de andar na parte de cima do onibus para ver a cidade e não acho que ter o pau torto seja um problema.
-É porque voce ainda não viu o meu.
Rimos disso.
Deve ser uma técnica nova para despertar a curiosidade porque durante o resto da noite, enquanto conversávamos, não conseguia tirar da cabeça a idéia do tal pau torto.
Claro que acabamos indo para a casa de dele, perto de Seven Sisters, uma área não muito bacana de Londres e com bastante brasileiros dividindo casas mais baratas. Nada contra isso. Eu mesmo divido com a Ana e o Doug faz séculos. Mas Seven é meio escuro, as lojas empoeiradas, gente esquisita andando nas ruas. Parece um bairro que parou no tempo, que deveria ter passado por uma reforma ou pelo menos uma boa limpeza há muito tempo mas ficou esquecido pelas autoridades. Daí fica aquele ar de pobreza, de falta de cuidado mesmo.
O Aldi também divide casa com outras pessoas e me falou que trabalha em um restaurante.
Fomos para o quarto, já mais de 1 da madrugada, e levei um susto quando finalmente vi o tal pau torto.
Acho que ele percebeu o susto.
-Viu? Falei que era torto cara – ele falou quebrando o gelo.
E não é que o pau dele parece um arco?
Muito estranho. Eu esticava ele com as duas mãos mas ele encolhia de novo. Quando fui chupar, queria mesmo é rir porque nem sequer conseguia me concentrar direito com o pau querendo sair da minha boca a todo momento. Foi difícil chegar a algum lugar.
Brincamos um pouquinho mas nem chegamos aos finalmentes. Nada de anal até porque não me vi tentando fazer malabarismos para conseguir sentar em um cacete com formato de bumerangue. E fiquei imaginando: vai que esse caralho entrasse e depois não saísse mais de dentro de mim e tivéssemos que chamar ajuda para o desengate?
É engraçado lembrar agora, mas na hora foi meio que uma situação um pouco constrangedora. Sabe aquele tipo de rapaz gente boa, de família, educado e divertido mas que na cama não faz voce querer subir pelas paredes?
Foi assim.
E por ele ser tão gente boa, não queria ofende-lo ou fazer ele se sentir ainda mais sem jeito por ter um pau diferente.
Encerramos numa boa, dei velha e batida desculpa em Londres do transporte para voltar para casa e ele falou que se eu quisesse marcar um dia para nos vermos novamente nem que fosse só para uma cerveja no centro era só dar uma ligada.
Trocamos telefones e talvez eu até aceite o convite.
Não por causa do pau dele, que é torto de dar dó. Mas gente interessante nunca é demais entre o nosso círculo de amigos, não é mesmo?